"Matricular nossos filhos neste colégio não pode virar uma doce ilusão de ter acesso ao ensino gratuito de boa qualidade", diz mãe de aluno.
Jornal do Brasil
Maria Luisa de Melo
Pombos no refeitório, falta de professores e ausência de rampas para deficientes físicos em algumas unidades do Colégio Pedro II. Estas são algumas das queixas de pais de alunos que apoiam a greve iniciada no último dia 15, nas escolas da rede federal de ensino. Para os pais que apoiam a iniciativa de mais de 1.500 professores e servidores grevistas, há uma tentativa de resgatar o que, segundo eles, "O Pedro II foi no passado" e frear o "sucateamento imposto pelo governo federal" decorrente de sucessivos cortes. O último foi de R$ 3 bilhões na verba destinada à educação.
"O sonho de estudar numa unidade do Colégio Pedro II não pode virar uma doce ilusão. Tem faltado muitos professores e não há inspetores. Quando os alunos ficam com tempo livre porque não tem professores para todas as matérias, é comum ficarem à toa pelo pátio. Além disso, de que adianta ter laboratórios para os estudantes se não há funcionários para mantê-los funcionando?", questiona a arquivologista Luciana Zanetti, mãe de um estudante da unidade de São Cristóvão (Zona Norte). "A greve foi o último recurso que restou aos professores e demonstra que há preocupação deles pela qualidade do ensino dos nossos filhos. Ter professor nas salas é o mínimo que deve ser oferecido", cobra.
Mães apoiam causas dos professores e veem na greve pedido de socorro derradeiro da educação de qualidade. Maior alvo das reclamações das mães, a contratação de professores temporários é apontada por elas como "a responsável pela queda na qualidade do ensino". "Cada professor que vem dar aulas no Pedro II fica um ano ou dois. Depois disso ele é substituído e não há continuidade pedagógica. Assim, a qualidade do ensino despenca a olhos vistos, aponta Laura Grisolia, mãe de estudantes do 6º e 8º anos da unidade Centro.
"O governo federal precisa descruzar os braços e fazer concursos público. A opção é sempre pelos contratados. E os concursos?", questiona.
Entre as reivindicações dos professores e funcionários que aderiram à greve da rede federal de educação básica e tecnológica estão o reajuste salarial de 14,67% e o pedido da realização de concursos. Eles pedem ainda que 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do país seja destinado à educação pública e querem a abertura de concursos públicos imediatamente.
Pais queixam-se do grande número de pombos no refeitório da unidade de São Cristóvão
Apesar da rede de colégios Pedro II ser considerada uma das mais tradicionais do país, os pais de alunos apontam alguns problemas de infraestrutura e higiene. Referindo-se à unidade São Cristóvão, Luciana Zenetti mostra dezenas de pombos no refeitório das crianças, que é aberto. Além disso, segundo alguns pais, os alunos cadeirantes têm dificuldade para acessar a entrada da unidade, que não dispõe de rampa.
"Muitas vezes os alunos cadeirantes tentam entrar pelo estacionamento, onde há rampa, mas são impedidos. A orientação é de que eles adentrem a unidade pelo portão principal, mas o acesso é quase impossível", conta a vendedora Elizabeth Cimino. "Já enviamos ofícios à direção no início do ano, mas não recebemos nenhum retorno", reclama.
A Diretoria de Ensino foi procurada para esclarecer as reclamações dos pais dos alunos, mas não atendeu às solicitações do Jornal do Brasil. O Ministério da Educação, por sua vez, informou que não comentaria assuntos relativos à greve de professores e funcionários.
Ex-alunos ilustres
Conhecido por ter formado personagens ilustres da história do país, a rede de colégios Pedro II é formada por 14 unidades em todo o estado do Rio. As escolas estão espalhadas por bairros como Centro, São Cristóvão, Humaitá (Zona Sul do Rio), Tijuca, Engenho Novo, Realengo, Niterói e Duque de Caxias (Baixada Fluminense).
Entre os grandes nomes que passaram pelas salas dos colégios estão escritores como Raul Pompéia, Lima Barreto, Álvares de Azevedo, Alfredo d'Escragnolle Taunay, Afonso Arinos de Melo Franco, Fernando Segismundo e Alceu Amoroso Lima.
Ministros, músicos, sanitaristas e dramaturgos também integraram o quadro discente das unidades. Entre eles estão o ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux; o compositor Noel Rosa; o sanitarista Oswaldo Cruz e o dramaturgo Dias Gomes, além do jornalista João Saldanha.
A instituição foi fundada em 1837, no período regencial brasileiro, e tinha, em seu plano educacional, a recomendação de formar políticos e intelectuais para os postos da alta administração pública do Brasil.
Fonte:
http://www.jb.com.br/rio/noticias/2011/08/26/greve-no-pedro-ii-pais-denunciam-sucateamento-e-criticam-governo-federal/#.Tle5wpQV0KB.facebook